A cobertura midiática sobre os direitos sexuais e reprodutivos, em especial sobre os três casos de aborto previsto em lei, enfoca a pauta a partir de aspectos morais, sociais e culturais. Entretanto, ainda que a pluralidade de perspectivas seja legítima, tanto as mídias tradicionais quanto as religiosas produzem conteúdos majoritariamente polarizados, limitando ao invés de ampliar o debate público sobre a garantia dos direitos das mulheres. É o que revela a pesquisa “O corpo é nosso: a cobertura da mídia religiosa e tradicional sobre direitos sexuais e reprodutivos”, realizada pelo Coletivo de Comunicação Intervozes em 2023.
A análise qualitativa foi feita em dois sites religiosos: o católico Canção Nova e o evangélico Gospel Mais, três jornais impressos, em suas versões on-line: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo e uma agência pública de notícias: Agência Brasil, em três períodos distintos relacionados à temática do aborto no Brasil: na audiências da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442; no caso da menina de dez anos estuprada e impedida de abortar no Espírito Santo e na publicação das portarias 2.282/2020 e 2.561/2020 pelo Ministério da Saúde, sob o governo de Jair Bolsonaro, que à época impôs regras mais duras para a realização da interrupção da gravidez nos casos garantidos pela legislação. A pesquisa evidencia uma forte presença de viés ideológico em algumas matérias, principalmente as publicadas em sites religiosos, bem como nos veículos tradicionais, a ausência da abordagem do aborto como questão de saúde pública e de defesa dos direitos das mulheres.