O monitoramento de ataques a jornalistas (Abraji, 2023)

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Em 2022 foram registrados 145 ataques explícitos de gênero e/ou agressões contra mulheres jornalistas. O número representa um aumento de 13,1% em relação a 2021, quando foram identificados 119 alertas do tipo. As mulheres, cis e trans, foram vítimas de grande parte (97%) dos ataques acompanhados pelo monitoramento de gênero.

Enquanto comunicadores homens foram mais atingidos por “Agressões e ataques”, com 63% dos casos com vítimas masculinas classificados dessa maneira, as mulheres têm como principal categoria de ataque os discursos estigmatizantes, especialmente aqueles que se baseiam em aparência, gênero e sexualidade
para ofender e descredibilizar. Identificou-se que 49% das agressões sofridas por elas envolvem violência verbal.

As mulheres jornalistas também foram alvos corriqueiros de agressões físicas, intimidações, hostilizações e ameaças – ações representadas pela categoria
“Agressões e ataques”. A porcentagem de casos com vítimas mulheres que se encaixa nesse grupo fica bem próxima da proporção de discursos estigmatizantes: 45,4% dos ataques a comunicadoras. Isso mostra que, além de sofrerem mais com a violência verbal, especialmente nas redes sociais, elas não são poupadas da violência física que aterroriza e oprime profissionais da imprensa brasileira.

Quanto aos agressores, em 57,9% dos ataques de gênero e/ou a mulheres jornalistas, os agressores são homens.

A cobertura política esteve conectada a 62,7% dos alertas, seguida pelas temáticas de segurança pública (9%) e esporte (7,6%).

Violência política de gênero nas eleições

Setembro, mês de campanha eleitoral, apresentou o maior número de ataques de 2022. Foram 83 casos, 48,2% a mais do que no mesmo período de 2021. O mês também estabeleceu um novo recorde para violência contra mulheres jornalistas: foram registrados 28 alertas, quase um por dia. O número representa um  aumento de 47,7% em comparação com setembro do ano anterior.

LGBTfobia e violência contra comunicadoras

Para mulheres jornalistas e profissionais da imprensa que se identificam com a comunidade LGBTQIA+, o ano que passou foi ainda mais duro. Nos ataques de gênero, elementos como sexualidade, orientação sexual, aparência e identidade de gênero foram usados para ofender e desmoralizar pessoas jornalistas. Essa forma de violência foi explícita em 31% dos 145 casos e em 8,1% dos alertas gerais. Os dados são um lembrete de que misoginia, homofobia, transfobia e outras formas de discriminação fazem parte do cotidiano de profissionais de mídia no Brasil.

A informação de que 63,4% do total de ataques têm conexão com o ambiente on-line mostra que um problema apontado no relatório de 2021 não foi solucionado ou amenizado: as grandes plataformas de redes sociais seguem inertes diante da violência contra a imprensa. Ainda não há ações efetivas para lidar com os ataques ou para responsabilizar os agressores.

Sobre a pesquisa

O Monitoramento de ataques a jornalistas é realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) anualmente e coleta, analisa e apresenta informações relacionadas às liberdades de expressão e de imprensa no Brasil. O objetivo do estudo é ajudar a entender melhor o quadro de violência contra jornalistas, comunicadores e meios de comunicação no país, permitindo que suas causas e impactos sejam discutidos por profissionais da imprensa, organizações da sociedade civil, autoridades públicas e pelos cidadãos de maneira ampla. A segunda edição do relatório é produto do trabalho sistemático feito em 2022 e reúne dados e contextos focados nas especificidades do cenário brasileiro. A Abraji monitora violações contra a imprensa de forma independente desde 2013. Em 2019, passou a trabalhar com a rede Voces del Sur (VdS), que reúne 16 países da América Latina e do Caribe, registrando seus avanços em direção ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 16.10.1 da Agenda 2030 da ONU. Antes de 2022 – e do lançamento do primeiro relatório de monitoramento escrito pela Abraji –, os dados sobre o Brasil eram publicados exclusivamente no Relatório Sombra, publicação anual da VdS.

 

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