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Dossiê Mulheres Negras: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil (Ipea, 2013)

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Jovens negras são as mais agredidas

As mulheres negras superam as brancas em número de ocorrências de agressão física.

Observando-se a idade das vítimas também se percebe que as mulheres negras mais jovens declararam mais episódios de agressão física do que as jovens brancas.

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[sobre] o padrão etário das pessoas que declararam terem sido vítimas de agressão física. Nele observa-se que o grupo das mulheres negras concentra-se nas faixas etárias das mais jovens. Este padrão de comportamento das agressões tem forte relação com o padrão da vitimização feminina segundo raça/cor por homicídios: as mulheres negras também superam as brancas tanto em número de ocorrências – tendo taxas superiores às das mulheres brancas –, quanto em seu comportamento por idade, que também tem padrão mais rejuvenescido e mais concentrado nas faixas mais jovens em comparação ao grupo de mulheres brancas.”
Jackeline Aparecida Ferreira Romio, mestre e doutoranda em Demografia pelo Instituto de Filosofia e Ciência Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp).

74% das violências contra as negras acontecem dentro de sua rede de relações

As mulheres negras foram em sua maioria agredidas por pessoas conhecidas, enquanto as mulheres brancas foram mais agredidas por desconhecidos.

Somando-se as agressões praticadas contra mulheres negras por conhecidos (35%), cônjuges ou ex (27%) e parentes (12%), pode-se afirmar que 74% das violências contra as negras acontecem dentro de sua rede de relações afetivas e de parentesco/conhecimento.

Negras são agredidas por parceiros ou parentes na própria residência

Tanto para as mulheres negras como para as brancas, as agressões dentro de casa são praticadas por cônjuges/ex e parentes.

Quando a agressão relatada ocorre na casa de terceiros, o principal agressor de brancas e negras foi um conhecido (39,7% para negras e 36,1% para brancas), seguido pelo parceiro ou ex, que representaram 31,% e 27,2% dos agressores, respectivamente.

Esta diferença pode sugerir que a mulher negra seja agredida pelo ex-companheiro independentemente do local, pois também se nota que elas foram agredidas por cônjuges e ex-cônjuges em local público em maior proporção que as mulheres brancas – 3,7% das mulheres brancas, em contrapartida, o dobro das mulheres negras, 7,6%, sofrem no mesmo ambiente e tipo de agressão. Para as mulheres brancas, o ambiente público tem como ator da agressão o desconhecido (57%).”
Jackeline Aparecida Ferreira Romio, mestre e doutoranda em Demografia pelo Instituto de Filosofia e Ciência Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp).

Por que mulheres brancas e negras não registram queixa sobre a agressão?

Os principais obstáculos para as mulheres brancas registrarem queixa sobre a agressão foram: a polícia não quis fazer o registro; resolveu sozinha; e falta de provas. Para a mulher negra, os motivos foram: a polícia não quis fazer o registro; resolveu sozinha; medo de represália; e não era importante.

“Ou seja, para as mulheres negras, as questões estão ligadas ao acesso à polícia, a elas se reconhecerem como vítima e superarem o medo, e o isolamento de suas questões com o Estado.
Note-se que a distribuição das causas para a mulher negra é mais diversificada, bem definida nos tipos e menos concentrada que para as mulheres brancas. Estas alegam não registrar suas queixas por motivos “outros”, seguido intensamente do motivo da polícia não querer fazer o registro, que é o primeiro e grande motivo para as mulheres negras também não registrarem suas ocorrências.”
Jackeline Aparecida Ferreira Romio, mestre e doutoranda em Demografia pelo Instituto de Filosofia e Ciência Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp).

Mulheres negras são as que mais sofrem agressões físicas

Os indicadores sociais consolidados na publicação, editada pelo Ipea em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência (Seppir-PR) e a ONU Mulheres, apontam para a dimensão das distâncias que separam homens e mulheres e negros e brancos nos contextos do trabalho e renda, educação, acesso a bens e serviços e da violência.

O Capítulo 5 da publicação traz o artigo “A Vitimização de mulheres por agressão física, segundo raça/cor no Brasil”, de autoria da pesquisadora Jackeline Aparecida Ferreira Romio, doutoranda em Demografia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. No texto, a pesquisadora apresenta uma análise sobre a violência contra a mulher segundo raça/cor com base nas informações disponíveis no suplemento “Características da vitimização e do acesso à justiça no Brasil da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios” (PNAD) 2009.

Sobre o estudo

No levantamento do IBGE foi perguntado para homens e mulheres maiores de 10 anos sobre suas experiências com situações de agressão física, assim como a frequência em que ocorreu, a natureza da relação com o/a agressor/a, o local onde ocorreu a agressão, além de outras questões, como a busca de soluções, denúncia e apoio do Estado.

Acesse a divulgação no site do Ipea: Dossiê Mulheres Negras retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil (Ipea, 12/2013)

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